Quero pessoalmente manifestar o meu mais inequívoco e firme apoio aos trabalhadores da SATA pela exemplar luta que travam.
Uma luta, em primeiro lugar, contra a desvirtuação da condição de trabalhador - o “pessoal”, na grosseira qualificação com que Carlos César, em plena Assembleia Regional, não há assim tanto tempo atrás, apelidou os açorianos que trabalham.
Uma luta contra a destruição dos órgãos próprios dos trabalhadores, órgãos aliás legitimados pela Constituição Portuguesa. Constituição que os próceres que nos governam só naquilo que lhes convém sabem evocar.
Os trabalhadores da SATA, é importante não esquecer, contra toda a sorte de maquinações, ludíbrios, ocultações, intimidações, e tendo de recorrer a todas as instâncias da Justiça, conseguiram manter operativa a sua Comissão de Trabalhadores e fazer-se legitimamente representar na Administração da empresa. Este feito, calado ou secundarizado por quase toda a nação, devia estar na primeira página das atenções de quem do trabalho dos outros não faz negócio, de quem recusa não só o brutal mas também o sofisticado negócio da escravatura assalariada, de quem no trabalho profissional vê uma prestação útil e não pasto para a ganância e a fantasia de magnates e pimpões.
Uma luta, também, contra o desmantelamento duma empresa regional. Desmantelamento calendarizada e cuidadosamente caboucado por um governo que se reclama de Regional e de Autonómico!
Enquanto açoriano fica aqui o meu testemunho que espero seja publicado na imprensa regional.
Quero ainda acrescentar o mais vivo repúdio pela tentativa de, na televisão regional, nas notícias de hoje da manhã, se procurar acefalizar os trabalhadores da SATA e desprestigiar o carácter e a inteireza da sua luta, classificando a greve de “política” com conotação expressa à “CDU” a que, segundo o jornalista, alguns trabalhadores pertenceriam. Na concepção do apresentador de serviço então o que for conotado como do “PS”, por exemplo, já não é “político”? Não é “político” o surf no que é dos outros com que se excita e exercita o “PS” em todas as frentes e em todos os campos para gáudio de uns tantos espertos, aplauso dos basbaques da corte, e humilhação e saque a nós outros quase todos? Não são “políticas” as decisões que o governo ou o parlamento assumem? Haja pudor!
Como trabalhador, como profissional, quero ainda fazer votos para que os meus colegas professores olhem para a dignidade destes outros trabalhadores e reconsiderem a estratégia de cobarde venalidade a que têm dado cobertura e força. Vou, aliás, enviar cópia do que aqui exponho ao Conselho Executivo da Escola Secundária Antero de Quental, onde exerço a docência, e ao Sindicato dos Professores em que estou inscrito, com o pedido de público apoio à luta dos trabalhadores da SATA assumido pela singularidade e firmeza que bem devem servir de exemplo também aos professores e às suas organizações e representações.
Não deixemos ficar isolado quem trabalha e luta com expressas razões de Estado e determinado pundonor.
Só os trabalhadores podem vencer a crise agudamente agravada por aqueles que nos trabalhadores só vêem carne para canhão e pessoal para os servir!